Você já despertou numa segunda-feira com o pensamento de que a partir deste dia mudaria a sua vida? Começaria a fazer exercícios, a controlar a sua alimentação, a comer menos doces, a tomar menos refrigerantes e tantas outras atitudes que sempre pensou em tomar? Faça uma reflexão muito rápida: quantas das metas que você colocou em sua vida você realmente atingiu? Depois dessa reflexão, será que o balanço foi positivo ou negativo? Independente da resposta, o incrível é que sempre há tempo para mudar… já que reconhecer a necessidade dessa mudança é o passo inicial e o mais importante. 

O que será que nos faz avançar em alguns aspectos, independente do esforço que precisamos ter, quando comparado a outras atividades que não conseguimos dar continuidade? Vários são os motivos, mas posso certamente citar os três mais frequentes que eu recebo no meu consultório: traçar metas inatingíveis (como por exemplo perder 10 quilos em 1 a 2 meses de maneira saudável e sustentável), não se programar corretamente durante a semana – só deixando fluir, e não priorizar o que você determinou como prioridade (ex: me comprometi a meditar pela manhã diariamente, mas estou com sono e não vou fazer).

Quando o assunto é priorizar, o grande estímulo para seguir em frente é a motivação, ou seja, o propósito que faz você se mover em busca de algo. Nunca me esqueço de um paciente que tive em consultório, que chegou até mim por uma indicação médica com o objetivo de emagrecer, mas atingiu seus objetivos porque tinha uma motivação maior: emagrecer para sentir-se mais disposto para brincar com os seus netos. Aqui podemos claramente considerar a motivação como um processo pelo qual um conjunto de motivos explica, induz, incentiva, estimula ou provoca algum tipo de ação ou comportamento humano. 

Outro aspecto que podemos perceber a partir dessa situação é que temos dois tipos de motivação:  aquela que nos move, nos mantém dispostos e felizes, permitindo alcançar nossos desejos íntimos e que muitas vezes não compartimos, pois pertencem somente a nós, que chamamos de motivação intrínseca (brincar com o neto), ou aquela que é uma resposta a recomendações ou demandas externas que, em nosso exemplo, é o encaminhamento médico, mas claramente poderia ser a falta de apoio e excesso de julgamento do meio social, recompensas materiais ou qualquer outra coisa que não parte de seu interior ou desejo pessoal.  A ciência nos explica que a pessoa impulsionada pela motivação interna tem maiores chances de atingir seus objetivos e manter-se focada neles, já que isso relaciona-se à sua satisfação pessoal.

Nós seres humanos, estamos em constante movimento, ora buscando X, outra buscando Y porém, o que importa de verdade, é sabermos escolher as nossas prioridades e nos mantermos firmes no propósito, desfrutando cada etapa da conquista e valorizando o esforço depositado. Te convido agora a pensar em alguma atitude que pretende tomar em sua vida, e que julgue ser importante e envolvida por uma motivação interna. Feito isso, pense como se sente frente a ela, e escolha uma das opções abaixo:

a. Simplesmente não quero fazer mais nada a respeito, estou cansada (o) e já sei que não vou conseguir.

b. Seria tão bom conseguir mudar. Sei que seria o melhor para mim e a minha saúde, mas não vou começar agora.

c. Já tomei consciência de que é algo importante para mim, e vou começar o mais breve possível.

d. Consegui mudar o meu comportamento frente a essa questão, e sigo firme sempre motivada (o).

e. Já incorporei as mudanças no meu dia a dia há mais de 6 meses, e sinto-me capaz de manejar qualquer problema que aconteça no meio do caminho.

Agora, a partir da opção escolhida, saiba em que nível ou estágio de motivação/prontidão você está:

a. Pré-contemplação

b. Contemplação

c. Preparação ou decisão

d. Ação

e. Manutenção

Gostou dessa perspectiva? Chama-se Modelo Transteórico e trata-se exatamente da percepção de nós mesmos frente à alguma situação. Este modelo foi desenvolvido por dois pesquisadores norte-americanos: James O. Prochaska e Carlo DiClemente, na década de 80, e tem sido bastante utilizado na área da saúde como ferramenta para medir a adesão a tratamentos, além da conduta a ser tomada, por parte dos profissionais da saúde, em vários tratamentos, entre eles o emagrecimento. De acordo com os pesquisadores, as alterações no comportamento relacionado à saúde ocorrem por meio destes cinco estágios distintos, mas, no meio do caminho, podemos ter recaídas,  e nessa situação, o importante é olharmos sem julgamento para tudo o que passou, aprender com os erros e recomeçarmos, sem desanimar, sentindo que somos capazes. Para que isso seja possível, cerque-se de pessoas que te apoiam e confiam na sua capacidade. Compartilhar é muito importante, mas lembre-se de que o processo de mudança é seu.

Para mim, a característica essencial deste Modelo é a participação ativa do paciente em todo o processo, o que favorece o desenvolvimento de habilidades como tomada de consciência (identificar o que pode melhorar) e autoeficácia (como manejar as dificuldades), atuando sobre os maiores problemas e dificuldades dentro do cenário atual. 

E você, depois de identificar-se, já decidiu o que fazer?

Vai continuar vendo apenas as dificuldades e pedras no caminho, pensando que não consegue atingir os seus objetivos e lidar com as frustrações, entrando num Círculo Vicioso que desmotiva e te faz ir cada vez mais fundo nessa situação, ou vai encarar o problema de frente, confiando em suas habilidades, buscando ajuda se necessário? Caso você tenha compreendido a necessidade da mudança e está pensando que vale a pena investir nela, não hesite; acredite na sua vontade, buscando apoio e ferramentas para atingir esses objetivos, inclusive com profissionais que te aconselhem e te ajudem nessa caminhada.

Não deixe essa vontade passar; vá em frente sem o medo de ser julgada (o) e sem se julgar, percorrendo firmemente as suas metas. Esteja consciente…e aguarde, pois vamos falar muito mais sobre este tema.

*O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.

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